Tokenização: o que é e como a tecnologia está transformando o mercado financeiro
A tokenização vem ganhando força como um dos principais movimentos de inovação financeira no Brasil e no mundo. Entenda como ela funciona, seus benefícios e os desafios para sua consolidação.
Nos últimos anos, a tokenização emergiu como uma das tecnologias mais promissoras dentro da revolução financeira digital. Ao permitir a representação de ativos reais por meio de tokens digitais, a tokenização amplia o acesso a investimentos, democratiza mercados e traz novos modelos de negócios para o sistema financeiro global. Não à toa, já é considerada peça-chave na construção da economia digital, com ampla adesão de instituições financeiras, reguladores e investidores.
O que é tokenização?
A tokenização é o processo de converter direitos de propriedade sobre um ativo físico ou financeiro — como imóveis, ações, títulos de dívida ou até obras de arte — em um token digital registrado em uma blockchain. Esses tokens funcionam como uma representação fracionada e programável do ativo original, podendo ser facilmente negociados, transferidos ou utilizados em diferentes aplicações financeiras.
Essa tecnologia não cria ativos novos, mas oferece uma nova forma de registrar, gerenciar e negociar os ativos já existentes, com maior eficiência, rastreabilidade e segurança.
Os principais benefícios da tokenização
Entre as vantagens que explicam o rápido avanço da tokenização no setor financeiro, destacam-se:
Aumento da liquidez:
Ativos tradicionalmente considerados ilíquidos, como imóveis ou participações privadas, podem ser fracionados e negociados digitalmente, criando um mercado secundário mais dinâmico.
Acessibilidade ampliada:
A possibilidade de comprar frações de ativos reduz barreiras de entrada para investidores de menor porte, democratizando o acesso a produtos de investimento antes restritos a grandes investidores institucionais.
Eficiência operacional:
A utilização da tecnologia blockchain automatiza processos, reduz intermediários e diminui custos operacionais e de compliance.
Transparência e segurança:
Como os registros são imutáveis e auditáveis na blockchain, há maior confiança nas transações e redução do risco de fraudes.
Programabilidade dos ativos:
Tokens permitem a inclusão de regras e condições automáticas, como pagamentos programados de dividendos ou royalties.
A expansão da tokenização no Brasil
O Brasil vem se destacando como um dos mercados mais dinâmicos na adoção de soluções de tokenização, impulsionado tanto pela iniciativa privada quanto pelo ambiente regulatório em desenvolvimento.
Bancos tradicionais já operam plataformas de tokenização próprias, lançando produtos que variam de cotas de fundos imobiliários a dívidas corporativas tokenizadas. Segundo o Brazil Tokenization Report 2024, ativos como dívidas privadas (US$ 9 bilhões), títulos do Tesouro americano (US$ 2 bilhões) e stablecoins (movimentando US$ 172 bilhões) despontam como os segmentos mais promissores para tokenização no país.
Essa tendência tem sido acompanhada de perto, apontando a tokenização como um dos principais vetores de transformação dos bancos nos próximos anos, em conjunto com o avanço do Drex e do Open Finance.
Tokenização e a agenda regulatória brasileira
O avanço regulatório tem sido um pilar central para garantir o desenvolvimento seguro e sustentável da tokenização no país. Em 2024, o Banco Central do Brasil incluiu a tokenização de ativos como um dos temas prioritários em sua agenda de inovação, reconhecendo o potencial dos ativos do mundo real (RWA – Real World Assets) na modernização financeira.
Simultaneamente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vem aprofundando sua atuação sobre ofertas de tokens de valores mobiliários, estabelecendo regras e orientações para emissões de security tokens, com foco na proteção ao investidor e na segurança jurídica.
Essa combinação de avanços regulatórios coloca o Brasil em posição de destaque no desenvolvimento de uma estrutura sólida para o ecossistema de tokenização, em alinhamento com as melhores práticas internacionais.
As possibilidades com Drex e a tokenização pública
O próprio Banco Central tem testado a tokenização dentro do projeto Drex, o Real Digital, cuja infraestrutura em blockchain programável permitirá a emissão de ativos tokenizados de forma nativa no ambiente regulado.
Entre os potenciais casos de uso para o Drex e a tokenização pública estão:
Financiamento imobiliário com garantias tokenizadas.
Emissão de títulos públicos e privados automatizados.
Programabilidade de pagamentos governamentais e subsídios.
Crédito rural e financiamento do agronegócio.
O Drex representa, portanto, um marco na integração entre setor público, privado e tecnologias descentralizadas no Brasil.
Desafios e próximos passos
Apesar do forte potencial, a tokenização ainda enfrenta alguns desafios importantes, como:
Harmonização regulatória global para facilitar o cross-border de ativos tokenizados.
Integração dos mercados secundários, que ainda estão em estágio inicial.
Padrões técnicos de interoperabilidade entre blockchains.
Educação de investidores e participantes do mercado para compreender o funcionamento e os riscos desses novos ativos.
À medida que esses obstáculos forem superados, a expectativa é de uma expansão ainda mais robusta do mercado de tokenização globalmente e no Brasil.
A tokenização está deixando de ser uma promessa futurista para se consolidar como uma das maiores inovações do mercado financeiro contemporâneo. Com o avanço tecnológico, o amadurecimento regulatório e o fortalecimento da segurança jurídica, o Brasil possui hoje uma base sólida para se tornar uma referência global nesse segmento.
No centro dessa transformação, a ABcripto segue atuando para apoiar o desenvolvimento responsável do ecossistema, promovendo o diálogo entre o mercado, reguladores e sociedade, com foco na inovação sustentável e na educação financeira.