RWAs: como a tokenização de ativos reais pode transformar o mercado financeiro

Do surgimento dos primeiros testes à regulação brasileira, um panorama completo sobre os Real-World Assets e seu papel na integração entre cripto e finanças tradicionais.

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Leitura de 7 min-26/09/2025, 07:30
Categorias: Tecnologia
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O que são RWAs e por que esse conceito ganhou força

RWA é a sigla para Real-World Assets, ou Ativos do Mundo Real. Trata-se da prática de tokenizar — isto é, transformar em tokens digitais registrados em blockchain — ativos que já existem fora do ambiente cripto, como imóveis, recebíveis, commodities, títulos de dívida ou participações societárias.

Na prática, cada token funciona como uma “representação digital” do ativo real. Isso permite que ele seja negociado em plataformas digitais, com liquidação mais rápida e possibilidade de fracionamento. Assim, um imóvel que antes só poderia ser adquirido integralmente pode ser dividido em centenas ou milhares de partes menores, cada uma representada por um token.

Esse movimento ganhou força porque aproxima dois universos: o das finanças tradicionais, baseadas em ativos reais e regulação consolidada, e o da criptoeconomia, que busca inovação, liquidez e descentralização.

Linha do tempo e contexto global

Os primeiros testes de tokenização surgiram por volta de 2017 e 2018, com foco em imóveis e fundos imobiliários digitais. Logo depois, a atenção se voltou para outros segmentos, como commodities, crédito e private equity.

Com o amadurecimento das blockchains públicas e permissionadas, empresas começaram a explorar a emissão de tokens lastreados em ativos do mundo físico. Em 2023, relatórios de consultorias globais já projetavam que o mercado de RWAs poderia ultrapassar US$ 10 trilhões até 2030, considerando a soma de títulos de dívida, imóveis, fundos e recebíveis migrando para registros digitais.

Casos relevantes começaram a aparecer em diferentes regiões:

  • Nos Estados Unidos, plataformas passaram a emitir tokens lastreados em títulos do Tesouro, que rapidamente se tornaram um dos RWAs mais negociados.

  • Na Ásia, a tokenização de commodities como ouro e petróleo ganhou tração.

  • Na América Latina, o foco tem sido o agronegócio e a tokenização de recebíveis, dada a importância do setor para a economia regional.

A lógica por trás da tokenização

Para entender como os RWAs funcionam, é preciso observar o ciclo básico:

  1. Ativo real: pode ser um imóvel, uma commodity, um título de dívida ou um contrato de recebível.

  2. Registro legal e custodiante: o ativo precisa ser formalmente registrado e mantido por uma instituição confiável.

  3. Emissão do token: com base nesse registro, é criado um token digital em blockchain que representa o ativo.

  4. Negociação e liquidação: o token pode ser comprado, vendido ou transferido em plataformas digitais, com regras programadas em contratos inteligentes (smart contracts).

Os benefícios desse modelo são claros:

  • Liquidez: ativos tradicionalmente ilíquidos (como imóveis ou debêntures) podem ser fracionados e negociados em mercados secundários.

  • Acesso: investidores de menor porte podem participar de mercados antes restritos a grandes players.

  • Eficiência: a liquidação é mais rápida e os custos de intermediação caem, já que boa parte do processo é automatizado.

Para isso, padrões técnicos como o ERC-20 (para tokens fungíveis) e o ERC-1400 (para security tokens, ou tokens de valores mobiliários) são os mais utilizados, garantindo interoperabilidade e conformidade regulatória.

Desafios regulatórios e jurídicos

Apesar do potencial, os RWAs enfrentam desafios importantes:

  • Custódia e governança: é preciso garantir que o ativo real que lastreia o token exista, esteja registrado corretamente e seja de fato controlado por uma entidade confiável.

  • Segurança jurídica: investidores precisam ter clareza sobre seus direitos em relação ao ativo tokenizado.

  • Prevenção a ilícitos: regras de PLD/FT (Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo) precisam ser aplicadas, o que exige integração entre emissores de tokens e autoridades financeiras.

  • Divergências internacionais: cada jurisdição trata o tema de forma diferente. Nos EUA, a SEC (Securities and Exchange Commission) adota postura rígida em alguns casos, enquanto na Europa o MiCA (Markets in Crypto-Assets Regulation) já prevê categorias específicas para tokens referenciados a ativos.

Essas diferenças mostram como a tokenização ainda precisa de harmonização regulatória para funcionar plenamente em escala global.

O Brasil e os RWAs

O Brasil tem se posicionado como um ambiente fértil para a inovação em RWAs. O Marco Legal dos Criptoativos (Lei nº 14.478/2022) criou as diretrizes para as PSAVs (Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais), reguladas pelo Banco Central a partir do Decreto nº 11.563/2023.

Além disso, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicou em 2022 o Parecer de Orientação nº 40, que esclarece quando um token pode ser considerado um valor mobiliário. Isso se aplica, por exemplo, a RWAs que representam participação societária ou expectativa de rentabilidade futura.

Na prática, o Brasil já vê movimentos relevantes:

  • Tokenização de recebíveis do agronegócio, ampliando acesso a crédito para produtores e investidores.

  • Projetos de títulos de dívida tokenizados, que exploram maior eficiência na emissão e liquidação.

  • Fundos imobiliários digitais, que buscam atrair novos investidores por meio de fracionamento de cotas.

Essas iniciativas se conectam ao debate sobre o Drex, a moeda digital do Banco Central, que pode atuar como camada de liquidação para RWAs em um ecossistema regulado e interoperável.

Tendências para o futuro

Nos próximos anos, a expectativa é de que os RWAs avancem em três frentes principais:

  • Integração com moedas digitais de Bancos Centrais (CBDCs): no Brasil, o Drex deve servir como base para liquidação de ativos tokenizados.

  • Infraestruturas híbridas: bancos e grandes instituições financeiras devem operar em blockchains permissionadas, enquanto parte dos RWAs pode circular em redes públicas.

  • Expansão setorial: novos segmentos devem aderir à tokenização, incluindo infraestrutura, energia limpa e créditos de carbono.

Mais do que uma tendência, os RWAs já se consolidam como uma das aplicações mais concretas e promissoras da criptoeconomia. Ao permitir que ativos reais sejam representados digitalmente, aproximam o mundo cripto da economia tradicional, gerando liquidez, acesso e eficiência, mas também trazendo novos desafios regulatórios.

No Brasil, o avanço regulatório com o Marco Legal dos Criptoativos e as iniciativas de tokenização em setores estratégicos mostram que o país pode ocupar papel de destaque nessa transformação.

A ABcripto seguirá contribuindo para que esse processo ocorra de forma segura, transparente e inovadora, conectando tecnologia, mercado e regulação.

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