Criptomoedas e inclusão financeira: como o ecossistema pode transformar o acesso a serviços financeiros
Potencial das criptomoedas para inclusão econômica, exemplos reais, dados e desafios técnicos e regulatórios
Ainda hoje, cerca de 1,4 bilhão de pessoas em todo o mundo permanecem fora do sistema bancário formal, sem acesso a contas, crédito ou pagamentos digitais. Em regiões de alta informalidade, inflação ou de grandes barreiras burocráticas, essa exclusão segue sendo um obstáculo estrutural para o desenvolvimento econômico. Nesse cenário, as criptomoedas surgem como uma alternativa tecnológica capaz de superar desafios da infraestrutura tradicional (TradFi), oferecendo acesso descentralizado e de baixo custo ao sistema financeiro global.
Infraestrutura aberta para inclusão
Criptomoedas são acessíveis a qualquer pessoa com acesso à internet e um dispositivo, eliminando intermediários tradicionais como bancos. Essa característica possibilita que populações não atendidas — aquelas sem documentos formais ou com baixa renda — acessem serviços financeiros básicos, como pagamentos e remessas, com apenas um smartphone. Em regiões de instabilidade, esses ativos permitem guardar valor, realizar transferências transfronteiriças e participar de atividades econômicas antes inacessíveis.
Adoção em ambientes desafiadores
Estudos globais apontam correlação entre adoção de criptomoedas e países com instabilidade econômica, baixa confiança institucional e déficit de infraestrutura bancária. Na América Latina, a adoção cripto cresceu 880% entre junho de 2020 e julho de 2021, e a região concentra de 8% a 10% da atividade global. Cerca de 58% da população brasileira já usa carteiras digitais.
Casos reais que fazem a diferença
No Quênia, o projeto AfriBit Africa em Kibera introduziu pagamentos em Bitcoin via Lightning Network para aproximadamente 200 pessoas sem conta bancária formal. Com taxas baixas e processamento em minutos, a iniciativa demonstrou como criptomoedas podem expandir acesso mesmo em favelas urbanas.
Na Bolívia, enfrentando inflação acumulada de 9,9% e desvalorização de 40% em relação ao dólar, o valor de transações com cripto cresceu 530% no primeiro semestre de 2025, alcançando US$ 294 milhões. Pequenos comerciantes já aceitam Bitcoin e USDT para pagamentos diários, sugerindo uma digitalização espontânea do sistema financeiro.
El Salvador, apesar dos desafios, tornou-se um marco ao permitir pagamentos em Bitcoin e distribuir US$ 30 em BTC via carteira Chivo, atingindo 46% da população. Em algumas localidades, carteiras Lightning superam contas bancárias tradicionais em adoção.
Comparação com o sistema TradFi
A rede cripto reduz custos de transação e elimina intermediários, chegando a taxas quase zero e liquidação em minutos, ao contrário de sistemas bancários que podem cobrar 5–10% em remessas internacionais. O uso direto e peer-to-peer (transação direta entre usuários, sem intermediários) rompe barreiras regulatórias e permite inclusão sem serviços bancários formais.
Além disso, plataformas DeFi oferecem empréstimos sem análise de perfil, possibilitando acesso a crédito para quem não tem garantia bancária — modelos que dialogam diretamente com iniciativas de inclusão. No entanto, a TradFi possui vantagens importantes, como estabilidade, proteção legal e adequação a grandes volumes — elementos essenciais para escala e confiança.
Desafios técnicos e regulatórios
Para que a inclusão baseada em cripto seja sustentável, é preciso enfrentar barreiras:
Volatilidade: criptomoedas como o Bitcoin variam muito de preço. Stablecoins reduzem esse movimento por serem ligadas a moedas como o dólar, mas exigem reservas financeiras seguras e supervisão adequada para manterem sua estabilidade.
Infraestrutura e alfabetização digital: é crucial oferecer conectividade, ferramentas de fácil uso e educação financeira, especialmente em áreas rurais.
Regulação: jurisdições estão desenvolvendo marcos específicos para proteger consumidores e evitar práticas ilícitas, envolvendo Bancos Centrais, CVM e entidades internacionais.
No Brasil, a discussão inclui o tratamento das PSAVs, definição de regras para stablecoins e integração com o Drex — projetos que exigem sandbox regulatório e diretrizes prudenciais claras para garantir credibilidade e escala.
O papel da ABcripto no avanço da inclusão
A ABcripto atua promovendo educação financeira por meio de glossários, podcasts, eventos e programas de certificação como o CEAV. Também promove diálogo com o Banco Central e a CVM, incentivando ambientes de teste controlados que priorizam inovação responsável, proteção ao consumidor e integração com políticas de inclusão.
As criptomoedas e tecnologias associadas, como blockchain e DeFi, apresentam um caminho inédito para promover a inclusão financeira global. Casos reais no Quênia, Bolívia e El Salvador demonstram que, com educação, infraestrutura e regulamentação adequada, é possível oferecer serviços financeiros a quem está fora do sistema tradicional.
O Brasil tem potencial para liderar esse movimento, potencializando iniciativas como Pix, Drex e futuras regras para stablecoins, integradas a estratégias de inclusão digital. Se consolidar essa combinação — tecnologia, regulação e educação —, avanços reais poderão ocorrer nos próximos anos.
A ABcripto continuará atuando para que o Brasil converta o potencial da criptoeconomia em inclusão financeira significativa, promovendo um mercado transparente, acessível e sustentável.